Moro num condomínio
enorme, de 450 apartamentos, divididos em 3 prédios de 25 andares com 6
apartamentos por andar.
O condomínio tem uma
receita enorme e sempre enfrentou diversos problemas, que a gestão de que faço
parte aprendeu a sanar e a transformar em patrimônio para todos.
Porém, há uma questão
que envolve a vida em comunidade que nada pecuniário consegue sanar. Essa
questão é a educação.
Muito receoso de
morar nesse condomínio, de tão enorme e com tal quantidade de pessoas, desde o
primeiro instante deparei-me diante de um fato: regra geral, somente um ou
outro condômino cumprimenta ao cruzar com você. Isso me dava nos nervos no
começo, mas com o tempo me acostumei.
A explicação para
isso deveria ser o fato de que 2/3 dos condôminos nunca morou antes em
condomínio - alguns vieram de favela e muitos de uma vida passada em casas
térreas ou sobrados. Mas essa explicação ajuda apenas em parte a entender o
fenômeno.
Muito poucos dos
condôminos participa da gestão do condomínio. Sem querer - e sem poder -
explicar como eram antes de nós as coisas, diria que a gestão toda deve-se a,
no máximo, quatro pessoas - a síndica e 3 conselheiros (um deles sou eu). Fomos
nós que coordenamos o sorteio das vagas da garagem, que fizemos as contratadas
cumprirem o que prometem, que resolvemos pendências judiciais, que resolvemos
questões disciplinares, que tratamos de todos os problemas, seja de qual ordem
forem - hoje há mais 2 conselheiros atuantes.
Isso faz com que o
peso de decisões que envolvem milhares de pessoas descanse em poucos ombros - a
maioria nos da síndica. A falta da educação faz-me crer que seja o motivo para,
quando aparecem, os condôminos apenas cobrarem solução para questões que lhes
parecem "pisada nos calos" (deles). No geral, eles mal se preocupam
com o que os outros fazem - a não ser que isso possa lhes trazer benefícios. É
muito difícil convencer os condôminos a participar seja do que for. E
dificilmente se consegue tirar o condômino do seu lugar limitado de condômino
para assumir o lugar de membro de uma comunidade. Pois não basta juntar gente e
criar uma hierarquia de resolução de problemas para criar uma comunidade.
Mas é justamente essa
característica do condomínio que me atraiu ao conselho. Pois sendo assim eu
tinha algo a contribuir - tendo já sido síndico duas vezes e tomado atitudes
que tiveram alguma relevância onde morei.
Mas seja como for
isso não compensa o fato de me sentir mal sempre que cruzo com alguém e esse
alguém finge que não me vê.
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