Ainda sobre o enterro de Campos

O tópico já é passado, e ontem (segunda) os destaques foram a nova composição de preferências do eleitorado para o pleito de outubro (composição essa publicada pelo Datafolha e cujo diretor explicou no Roda Viva). Mas cumpre ainda falar um pouco sobre o enterro desse pernambucado ilustre, responsável pela maior aglomeração de pessoas na história daquele Estado.
Usarei como base a cobertura feita pelo Valor Econômico do evento, menos chinfrim que as dos jornais mais conhecidos.
Novamente eu me surpreendi com as demonstrações de irracionalidade no evento. Vaia à presidenta, para depois abafamento por aplausos? Punhos cerrados erguidos pelos filhos de Campos? Gritos de justiça (sic)? Jeito de campanha do evento (única diferença, a bandeira preta)? Reclamações por Dilma comparecer? Mensagens de que o filho mais velho será governador? Cantoria, com punho cerrado, de Eduardo como guerreiro do povo brasileiro? Sorry.

Tiremos primeiro da frente os gritos por justiça. Meu Deus, foi um acidente, caralho. Punhos cerrados com cantorias? Ok, uma forma de homenagem. Mas quem não se lembra do punho cerrado de Collor, pouco antes de ser defenestrado? O que punho cerrado deixa transparecer? Raiva e ausência de negociação. Será isso? O descaramento de vaiar a própria presidenta, por outro lado, só perde para as reclamações de que Dilma não deveria ter aparecido. Se questiono a participação da presidenta em exercício em solenidades como a da inauguração do Templo de Salomão, por outro lado não posso deixar de dar-lhe razão ao comparecer. Ela é uma estadista, e estadista não tem partido - ou não pode transparecê-lo (pois governa para todos). O que querem esses que reclamam? Tratar o assunto como questão de família? Uma família de 160 mil pessoas (número dos que estavam lá)? O que mais me irrita, por outro lado, são as mensagens de que o bastão agora passou para os filhos. Caralho, esse entendimento do país como uma junção de currais eleitorais parece não mudar. O PE seria para sempre a terra dos Arraes? Sim, mas a que preço? Não haverá outras lideranças políticas relevantes na região? Fazem-me crer que não. Essa mania de o povo apoiar-se no pai ou numa determinada família aqui faz seu efeito. Passa ao largo a intenção, por parte de alguns, de que a política deve apoiar-se na vontade popular. Ninguém parece pensar nisso. Colocam Campos como anjo caído do céu - o que ninguém é (e ele viria a admitir). O jeitão de campanha tocado durante o enterro, por outro lado, confirmou o que todo mundo já sabe: que enterro nenhum atrapalha as articulações por mais e mais poder. O selfie de Marina e o choro de Lula também fazem parte. Poder é isso. Mas isso a gente deveria saber.

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