Não podia ficar indiferente ao artigo que Nate Silver, estatístico especializado em previsões na área da política, escreveu e que foi traduzido no último exemplar do caderno Ilustríssima, da Folha. Lá, Silver faz uso da distinção de Isaiah Berlin - que na verdade a captou do grego Arquíloco - entre ouriços e raposas, referendo-se a perfis que distinguem estudiosos ou mesmo pessoas. Os ouriços são fortes em apenas uma especialidade e as raposas destacam-se por beber de diversas fontes, sem terem grandes verdades a defender.
O artigo, em última instância, versa sobre o fato de as raposas conseguirem prever fatos em parcela muito mais alentada que os ouriços, que nos últimos anos têm errado com frequência e quase vergonha. Silver entra um pouco em exemplos que fazem crer que os ouriços são especialistas que por darem origem a posições fortes e por serem ótimos em defender posturas de gente que os apóia acabam conseguindo bem mais destaque na mídia que as raposas, vistas como gente sem posição definida ou cujas posições as torna dúbias.
Lembro-me bem de quando comecei a ler Berlin. Na época, eu estava fissurado na questão das liberdades, e a distinção que ele faz entre liberdades negativas e positivas serviram até de alguma coisa na pós-graduação em ciência política que não pude concluir. De lá para cá, tenho-o lido pouco, quase nada, na verdade, ou mesmo nada, e essas discussões entre liberdades me dão agora um certo sono. Quem saber porque agora pouco tenho motivos para me preocupar com tais critérios e distinções, quem sabe porque estou mais interessado em outros campos, que captam toda minha energia.
Sobre o artigo de Silver, é interessante perceber o quanto ele acaba com sua postura defendendo a inter ou transdisciplinariedade, algo que não tem nada de inédito. Os ouriços, segundo ele, então, estariam condenados à extinção. Quem sabe.
Comentários