Quinta passada participei de mais uma reunião de conselho de condomínio.
Estava lá um pessoal de uma empresa terceirizada de segurança, limpeza e mais com a qual estamos tendo um relacionamento conturbado. Os caras, de paletó e gravata e visualmente desconfortáveis, estavam na posição de somente ouvir. Papel de vidraça - quebrada de antemão, eles mal sabiam.
Chegou o zelador, que iria narrar eventos que até hoje me fazem ficar de cabelo em pé e terrivelmente irritado. Não vou lhes explicar o que foi que ele falou. Digo apenas que num determinado momento ficamos defrontados face a nomes de funcionários envolvidos em situações extremamente desconfortáveis. Alguns desses funcionários têm já certa idade e passam, enquanto trabalham, por desafios que conheço bastante bem. Conheço porque já fui síndico e já me vi às voltas com sujeitos como esses. Caras que parecem não atinar com o que acontece à sua volta. Caras que, quando lhes dá um tilt não conseguem fazer nada. A gente fica estranhado em como isso pode acontecer. Mas é a idade, essa nossa velha conselheira que num determinado momento da vida leva naturalmente a isso.
A reunião ocorre e não vou lhes dizer exatamente o que ficou para depois. Surgem nomes de funcionários - que não conheço. E tento então saber quem é quem.
Encontro um deles, chamado Nelson, ao voltar do ensaio. Um sujeito de estatura mediana, mais para gordo, moreno, de bigode. Percebo então concretamente aquilo que me foi apresentado formalmente na reunião: uma sensação estranha de poder - de poder influenciar o destino de um sujeito humilde, como todos os que nos rodeiam. Ele deve saber muito bem que, estando no prédio, já está virtualmente de fora dele. Sua presença é questão de tempo. O que será dele depois, eu não sei. Como quase sempre, ele deve ser pai de família, deve ter contas para pagar, deve ter uma vida, enfim.
Quando assumimos um cargo qualquer sujeitamo-nos a situações desse tipo. A conhecer gente pelo nome antes mesmo de conhecê-la; a entender que estamos em posição de poder, podendo portanto definir quem fica fazendo o quê; a dominarmos o destino dos que nos rodeiam. Eu não ligo muito para o peso do poder, não, creiam-me. Mas lá no fundo sinto algo, não sei o quê, que me faz desconfiar do lugar que ocupo.
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