O Kiko Rieser, motivado pela resposta agressiva de manifestantes na penúltima quinta-feira, numa das intermináveis passeatas que 'assolaram' (desconsiderem o eventual aspecto negativo da expressão) São Paulo, organizou uma roda de debates da qual participaram a filósofa Márcia Tiburi, Bruno Torturra e diversos interessados, indo desde profissionais médicos até estudantes secundaristas. Eu, também.
A discussão transcorreu entre o registro da indignação, da preocupação e da reflexão aprofundada (filosófica) ou nem tanto (restrita às consequências imediatas ou não tão imediatas de todos os movimentos). Não irei fazer um resumo dela, até porque foi gravada e pode ser encontrada aqui.
O que me intriga é que há, por um lado, uma intenção forte em entender o que aconteceu - como se fosse possível resumir eventos que elevaram manifestações em centenas de cidades, cada uma com sua dinâmica. Por outro lado, há uma tentativa de entender as discussões relativas aos temas abordados - como se agora a gente estivesse numa roda de democracia direta, envolvidos por grupos os mais diversos, com as mais diversas posições. Por último, há uma vontade de participar, algo que pode parecer atomizado, mas que no fundo se expressa em participação real - seja em termos de entendimento, seja em termos de entrar em movimentos reais, sob a forma de massa ou de pequenos grupos. Parece haver acordado uma vontade política difusa em todos.
Sempre entendo que somos aquilo por que temos interesse. Somos classe média quando temos interesse por valores dessa mesma classe. Já quando somos de classe média mas temos valores de outra classe há algo errado. Precisamos nos direcionar face a atividades que consigam dar vazão a nossos valores. Daí surgem os médicos que se ressentem do seu papel de classe e que decidem ir em direção dos que mais necessitam ou, caso oposto, dos que mais valor podem retornar aos seus serviços. Daí surgem os chamados traidores de classe, que em nada são traidores porque dirigem-se em função de seus próprios interesses, por que não. Simplesmente eles não são aquilo que poderia se esperar deles. Nada errado, nisso tudo.
Mas, voltando ao debate promovido no galpão do Folias. Houve um momento em que sentia que alguns queriam orientar a discussão sobre as manifestações a um certo açodamento que passou a tomar conta do poder público em suas variadas esferas. Ao fato de que a PEC 37 foi rejeitada na medida em que as instituições passaram a ser comandadas pela turba e não pela razão. Pois então. Acabo de ler artigo do Roberto Romano no Estado remetendo a diversas posições dos clássicos quanto à turba. Realmente, será a turba ignara? Não é o que aparentam as manifestações por aí. Parecem mais turbas normalmente controladas que passaram a se manifestar. Se possuem razão em suas manifestações, parece ser outra coisa.
Curioso que, ao falar, eu tenha ficado nervoso e colocado diversas questões que remetem a paradoxos. Não, Obama não está fazendo nada ilegal, ao contrário, está cumprindo o Ato Patriótico. Não, o Facebook não é liberdade, necessariamente, ele é o capital. Não, estamos nos prendendo àquilo que queremos fazer quando estamos deixando passar aquilo que agora mesmo está ocorrendo. Em que medida as reuniões da Dilma com os ditos representantes estão mesmo representando alguma coisa? Como encaramos a urgência que passou a tomar conta da Dilma com a questão de reforma política? Houve quem, na reunião, tenha dito que a Dilma busca um diálogo com a sociedade, e que optou pela reforma política na medida em que se vê podada por interesses minúsculos mas poderosos. Houve quem tenha dito que as questões envolvendo saúde desmerecem o descaso que os médicos costumeiramente têm com seus 'clientes'. Houve quem trouxe a discussão para a importação dos médicos cubanos, portugueses e espanhóis. Houve quem disse haver estudado certo aspecto a respeito a fundo.
Ao final, eu não sabia muito bem a que mais me referia - mas eu pus minha mão a respeito, sabendo conduzir as discussões a coisas mais concretas, e a menos filosofia. Ao final, o Bruno disse que, sobre a reunião com a Dilma, irá falar para nós o que ocorrerá. Houve também uma certa desconfiança - a meu respeito - por quem colocou-se com respeito ao açodamento com a PEC. Houveram também iniciativas por grupos de trabalho, por discussões temáticas, e tudo o mais.
Foi muito interessante. Consegui ouvir e ser ouvido na medida do possível. Só achei estranho ter tido voz por parte dessa grandiosa atriz - Maria Alice Vergueiro - que ao final me pediu desculpa por ter pegado minha parte da voz. Quão nada. Terceira vez que ela me surpreende. Em que vejo a grandiosidade abrindo algum pequeno caminho para mim. Foi lindo, tudo.
A discussão transcorreu entre o registro da indignação, da preocupação e da reflexão aprofundada (filosófica) ou nem tanto (restrita às consequências imediatas ou não tão imediatas de todos os movimentos). Não irei fazer um resumo dela, até porque foi gravada e pode ser encontrada aqui.
O que me intriga é que há, por um lado, uma intenção forte em entender o que aconteceu - como se fosse possível resumir eventos que elevaram manifestações em centenas de cidades, cada uma com sua dinâmica. Por outro lado, há uma tentativa de entender as discussões relativas aos temas abordados - como se agora a gente estivesse numa roda de democracia direta, envolvidos por grupos os mais diversos, com as mais diversas posições. Por último, há uma vontade de participar, algo que pode parecer atomizado, mas que no fundo se expressa em participação real - seja em termos de entendimento, seja em termos de entrar em movimentos reais, sob a forma de massa ou de pequenos grupos. Parece haver acordado uma vontade política difusa em todos.
Sempre entendo que somos aquilo por que temos interesse. Somos classe média quando temos interesse por valores dessa mesma classe. Já quando somos de classe média mas temos valores de outra classe há algo errado. Precisamos nos direcionar face a atividades que consigam dar vazão a nossos valores. Daí surgem os médicos que se ressentem do seu papel de classe e que decidem ir em direção dos que mais necessitam ou, caso oposto, dos que mais valor podem retornar aos seus serviços. Daí surgem os chamados traidores de classe, que em nada são traidores porque dirigem-se em função de seus próprios interesses, por que não. Simplesmente eles não são aquilo que poderia se esperar deles. Nada errado, nisso tudo.
Mas, voltando ao debate promovido no galpão do Folias. Houve um momento em que sentia que alguns queriam orientar a discussão sobre as manifestações a um certo açodamento que passou a tomar conta do poder público em suas variadas esferas. Ao fato de que a PEC 37 foi rejeitada na medida em que as instituições passaram a ser comandadas pela turba e não pela razão. Pois então. Acabo de ler artigo do Roberto Romano no Estado remetendo a diversas posições dos clássicos quanto à turba. Realmente, será a turba ignara? Não é o que aparentam as manifestações por aí. Parecem mais turbas normalmente controladas que passaram a se manifestar. Se possuem razão em suas manifestações, parece ser outra coisa.
Curioso que, ao falar, eu tenha ficado nervoso e colocado diversas questões que remetem a paradoxos. Não, Obama não está fazendo nada ilegal, ao contrário, está cumprindo o Ato Patriótico. Não, o Facebook não é liberdade, necessariamente, ele é o capital. Não, estamos nos prendendo àquilo que queremos fazer quando estamos deixando passar aquilo que agora mesmo está ocorrendo. Em que medida as reuniões da Dilma com os ditos representantes estão mesmo representando alguma coisa? Como encaramos a urgência que passou a tomar conta da Dilma com a questão de reforma política? Houve quem, na reunião, tenha dito que a Dilma busca um diálogo com a sociedade, e que optou pela reforma política na medida em que se vê podada por interesses minúsculos mas poderosos. Houve quem tenha dito que as questões envolvendo saúde desmerecem o descaso que os médicos costumeiramente têm com seus 'clientes'. Houve quem trouxe a discussão para a importação dos médicos cubanos, portugueses e espanhóis. Houve quem disse haver estudado certo aspecto a respeito a fundo.
Ao final, eu não sabia muito bem a que mais me referia - mas eu pus minha mão a respeito, sabendo conduzir as discussões a coisas mais concretas, e a menos filosofia. Ao final, o Bruno disse que, sobre a reunião com a Dilma, irá falar para nós o que ocorrerá. Houve também uma certa desconfiança - a meu respeito - por quem colocou-se com respeito ao açodamento com a PEC. Houveram também iniciativas por grupos de trabalho, por discussões temáticas, e tudo o mais.
Foi muito interessante. Consegui ouvir e ser ouvido na medida do possível. Só achei estranho ter tido voz por parte dessa grandiosa atriz - Maria Alice Vergueiro - que ao final me pediu desculpa por ter pegado minha parte da voz. Quão nada. Terceira vez que ela me surpreende. Em que vejo a grandiosidade abrindo algum pequeno caminho para mim. Foi lindo, tudo.
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