Não tenho tido muito
tempo, mas vez ou outra consulto os jornais que compro e entro em algum artigo
no face sobre as eleições e tento me manter atualizado. Acho que isso deve ser
comum entre nós, mortais que não cobrem as eleições de forma profissional -
sendo pagos para isso.
Mas tenho me
decepcionado amargamente com a superficialidade dos artigos que propõem trazer
alguma luz a essa eleição que está distante de nós meros mês e pouco. Pois parece
que os articulistas não percebem o conservadorismo do eleitorado brasileiro,
paulista (no meu caso) e paulistano (também), que tradicionalmente não dá quase
qualquer bola a análises que se apoiam em suposições quanto a fatores que podem
fazer o seu voto mudar.
No caso de Marina.
Claro, todos estão a postos para mostrar que ela não é sinônimo de mudança.
Apoiando-a ou não, muitos só querem ver a ex-ministra assumir as propostas que
em sua vida de evangélica originam-se mais de sua preferência em ler a Bíblia
nos voos para aqui e acolá do que de uma tardia vontade de entender de
economia. Pois o que o panorama parece querer dizer mais a todos é justamente o
bordão "é a economia, estúpido!", originado se não me engano na
política norte-americana.
Um dos artigos que
acabo de ler é focado, por exemplo, em provar que aqueles que acompanham a nova
candidata não têm absolutamente nada de novo, politicamente falando. O artigo,
no caso, foca-se em mostrar quem é Walter Feldmann, escolhido pela Marina para
ajudá-la a tocar a eleição - a Erundina chegou depois num cargo que nem
existia. O que me deixa um pouco decepcionado é o jornalista que faz o artigo
supor que o leitor pode se deixar afetar por esse tipo de informação. Nós
estamos até nos acostumando a ver o próprio Maluf aparecer nas telinhas dizendo
que bandido bom é bandido preso - em épocas áureas ele era "morto",
não é mesmo (hoje pega mal). Pois se existe um Maluf falando diatribes desse
calibre podemos bem entender que existe o eleitorado que o apoia, e - vejamos
se as pesquisas e as eleições irão prová-lo - que o elege. Qual a importância
de dizer que o Feldmann é um homem de menor porte político que, vez ou outra,
tem seu nome citado em escândalos? Acaso o eleitorado de Marina pode se deixar
afetar por essa insinuação?
Há outra cobertura,
agora em jornais, que, respaldada em acontecimentos ou repercussões anteriores,
tenta mostrar que Marina pode recair nas mesmas armadilhas em que teria caído
Dilma. Refiro-me em especial à cobertura que indica que Marina pretende
reforçar, assim como Dilma pretende, os controles sociais à democracia
representativa brasileira. Pergunto-me quem realmente sabe em que consiste a
tão propalada democracia direta que eu tanto esposava na época de minha
pós-graduação em ciência política. Respondo dizendo que quase ninguém.
Simplesmente pelo fato de que o eleitorado no fundo - as pesquisas mostram -
está apenas preocupado em como a política pode afetar - de preferência para o
bem - sua vida. Pouco importa para a maioria dos que ainda pensam em política
que as medidas sejam aprovadas por grupos ou mesmo pela coletividade. O tão
propalado plebiscito que redundou na vitória acachapante do sistema
presidencialista - em contraposição ao parlamentarista - é uma boa prova disso.
O eleitor não quer, salvo em casos particulares, participar - nem acha que isso
seja tão interessante. Interessante para ele é que as políticas adotadas o
beneficiem - ou no mínimo que não o prejudiquem.
Claro, a política é
um ambiente mutante. A própria maturação do sistema democrático no país motiva
mais grupos a participarem das decisões, e muitas destas acabam realmente
passando por crivos sociais diversos. Mas daí a dizer que a ênfase em
parâmetros da democracia direta pode prejudicar uma candidatura em definição é
um passo bem distante. Diria também que, nesse quesito, tudo passa pelo
entendimento daquilo que realmente aconteceu em junho de 2013, quais sejam, os
protestos de milhões de pessoas em diversas capitais e outras cidades do país.
Só gostaria de tocar um ponto a respeito, só uma indicação. Que é o fato de, na
hora dos protestos, haver um clima de confraternização da sociedade, seja qual
fosse o motivo, a bandeira ou a reclamação. Nesse ponto não vi ninguém falando
a respeito. Pois eu me lembro. Nos primeiros dias de passeatas, havia um medo
de que algo de ruim acontecesse. Mas depois, com a conflagração dos movimentos
nas ruas, todo mundo parecia querer participar. Se havia algo que essa maioria
defendia, isso é questão de especulação. Foi realmente um pedido por mudanças -
seja lá quais fossem. Mas daí a dizer que esses movimentos teriam sido um
ensaio de democracia direta, não sei, realmente não sei - embora até torça para
que tenham sido.
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