Sobre política e gritos de guerra

Gosto de estudar, refletir e lidar com política em suas mais variadas formas, e sei que ao lidar com política lidamos também com a possibilidade de termos de admitir atos de força. Pois, embora a guerra não seja a política por outros meios, em política às vezes é necessário certo arbítrio - justificado, mas arbitrário.
Não acompanhei detidamente o enterro de Eduardo Campos nem dos de sua equipe, assim como passei batido por toda essa cobertura sobre o que aconteceu com o avião em que eles estavam nem se foram achadas novas evidências nos corpos e nos materiais coletados.
Mas fiquei espantado com algumas fotos que foram tiradas no velório e enterro de Campos, aos quais compareceram milhares de cidadãos. Não entendo como um enterro pode dar margem a levantar gritos de guerra ou atitudes mais violentas - verbalmente - com respeito às consequências do acidente para as eleições de outubro.
Claro, estou me atendo a um aspecto dentre muitos outros que podem ser levantados da cobertura e da situação política alcançada. Mas gostaria com isso de ressaltar um aspecto que normalmente passa meio que batido para muitos dos estudiosos e interessados em política aqui neste país.
A discussão política, diria, culta, diz respeito a questões relativas a divisões de poderes, discursos, atos discricionários, justificativas de gastos, etc. Isso nos mais variados níveis que envolvem política. Num condomínio, por exemplo, que eu sempre considerei um microcosmo da política vigente neste país ou no mínimo nestas cidades (refiro-me a São Paulo e Taboão da Serra, esta última minha residência), todos esses fatores ocorrem o tempo todo.
Mas como se dá a política entre as pessoas que normalmente não fazem política? Aí é que a porca torce o rabo. Pois, como não possuem experiência nem teórica nem prática em política, as pessoas, em geral, assumem posturas agressivas sempre que acaba recaindo nelas decisões de ordem política. Posturas agressivas ou em interesse próprio ou mesmo no que diz respeito a interesses mais difusos ou coletivos. Não existem muitas meias-medidas entre as pessoas que, num determinado ponto da jornada, são defrontadas com situações em que são elas a decidirem o que irá acontecer.
Refiro-me por exemplo a reuniões de conselhos específicos, por exemplo. Conselhos sobre definir mudanças no regimento interno de um condomínio. As pessoas em geral não querem saber. Elas lutam encarniçadamente por seus interesses pessoais, simplesmente, mesmo sabendo que não são eles que devem ser levados prioritariamente em consideração. Sim, essas pessoas não querem saber. A elas pouco interessa argumentações contrárias de caráter geral.

Talvez isso tenha algo a ver com os gritos de guerra levantados no enterro de Campos. Gritos de quem viu sua opção ser defraudada pelo destino e que só vê a agressividade como forma de mostrar que não desistiu. Talvez seja isso.

Comentários