Conviver não é tão difícil

Viver em condomínio pode parecer para alguns uma tarefa difícil ou chata demais para encarar. Vou elencar a seguir algumas dicas que descobri nos últimos dez anos, participando de condomínio como conselheiro e síndico, no Jabaquara e agora (como conselheiro) em Taboão da Serra, sempre com sucesso.
Antes de mais nada, viver em condomínio é CONviver, saber CONviver.
Em outras palavras: num condomínio, o síndico é, sim, a autoridade maior. Mas não é a única - nem deve ser. Síndico sem conselho forte tende a se tornar um ditador. E ninguém gosta de ditadura - até porque as ditaduras não costumam ser transparentes e podem dar margem a arbitrariedades e mesmo a desfalques - de recursos que são COMUNS.
Basta verificar nos manuais do Secovi ou de outras entidades: as atribuições do síndico são sempre muitas e muito complexas. É exigir demais que UMA pessoa domine todas as habilidades e conhecimentos necessários ao bom desempenho de suas atribuições. Nesse sentido, um condomínio bem gerido COSTUMA SER um condomínio em que o síndico e o conselho conseguem, de comum acordo, trabalhar todas as questões comuns a todos, em que as habilidades dos membros do conselho são trabalhadas de forma a funcionarem para o bem do todo.
Um bom conselho, por outro lado, é um conselho em que as decisões são tomadas sempre em conjunto e de forma prática. Leva vários meses até que um conselho consiga se entender, e em que os membros conseguem reconhecer, uns nos outros, as características e pontos fortes (e fracos) de cada um. Um bom conselho reúne-se com frequência, de preferência toda semana. Mas as reuniões não precisam ser muito longas - nem é bom que isso aconteça. As reuniões do conselho devem ser tocadas com praticidade e sempre, ao final de cada uma, deve ser tirada uma ata que todos devem conferir a posteriori - e de preferência dar um visto.
Compra de bens para o condomínio devem passar sempre pelo conselho - principalmente acima de determinado valor (o que deve ser acertado por todos). Os contratos devem ser avaliados por todos, e as empresas escolhidas a partir de uma lista de no mínimo três para cada produto. As características de cada proposta devem ser discutidas com celeridade - e as decisões tomadas, se não por unanimidade, por maioria. Ninguém pode levar no pessoal caso sua posição seja vencida.
As assembleias devem ser feitas com praticidade. Ninguém aguenta assembleias muito longas e pouco objetivas. Se não forem conduzidas com rigor mas permitindo que as pessoas opinem NOS TEMAS COMBINADOS, tendem a descambar em problemas particulares dos condôminos, e isso costuma gerar desinteresse e irritação. Uma assembleia bem conduzida é objetiva, clara e breve, sem deixar de dar espaço para que as pessoas participem. De preferência, é sempre bom que a assembleia conte com apresentações didáticas e que as decisões sejam tomadas com objetividade.
As pessoas costumam variar muito em capacidades, e sempre surge alguém que sabe mais que os outros. Isso não é ruim, mas nunca se deve deixar que alguém monopolize demais o poder no condomínio - mesmo o síndico, pois sempre que isso acontece as outras pessoas acabam sendo desestimuladas a participar, o que faz com que o condomínio tenda a ser tratado com menos transparência.
Todo dia surgem novos casos e novos desafios em qualquer condomínio. Mas nenhum desses casos é sério demais que não consiga ser trabalhado adequadamente pelo síndico ou pelo conselho de posse de suas atribuições. Sempre é possível lidar com as questões que envolvem qualquer comunidade. E, aqui comigo, sugeriria que em qualquer condomínio existam membros especializados em 1) regulamento, 2) contabilidade e 3) política. O especialista em regulamento torna-se fundamental em solucionar questões de ordem disciplinar e de convivência. O especialista contábil tende a cuidar das contas e do relacionamento com a administradora. O especialista em política trabalha a relação entre os membros do conselho e o síndico e conduz a assembleia. Mas é sempre bom que os membros revezem, a cada período de tempo, as atribuições, de forma a nenhum ser tão imprescindível que, sem ele, tudo desande.
Bom, essas são apenas algumas dicas que consigo elencar agora. Viver em condomínio é uma arte.


Rodrigo Contrera é jornalista e conselheiro de condomínio em Taboão da Serra.

Comentários