Desde que fiz Filosofia, na USP, quis visitar Paris. Não tinha muitas informações da cidade, porém. Ela simplesmente era o lugar onde haviam ocorrido eventos importantes. Um lugar com história. Fui até lá duas vezes, em 2003 e 2005. Chegando lá, vi que a imprensa escrita tinha alguns destaques no âmbito político que a gente não conhecia, ao menos aqui. Vi isso e vi muito mais. Isso me trouxe a impressão de lá haver uma maturidade sobre esses assuntos que aqui nós não parecíamos ter.
Uma das vezes que andava pela cidade, encontrei um ministro petista procurando um bom restaurante para comer. Achei estranho, não falei com ele, e ele entrou num lugarzinho qualquer. Aos poucos, minha impressão sobre aquela imprensa foi mudando, e também minha impressão sobre nossa suposta inferioridade analítica. Pois fui caindo em mim. Notei que ali havia gente que tinha um olhar supostamente mais conhecedor da vida política, mas que não nos conhecia realmente direito. Foi assim que os anos se passaram e que abandonei meu complexo de vira-lata.
No Brasil, existem alguns jornais e revistas que querem nos fazer crer que precisamos de gente como aquela para, digamos, tomar conta de nós. Um desses meios é o Le Monde Diplomatique, o chamado Diplô. Outro é a revista Piauí, comandada por gente que advém do ambiente banqueiro. Não são muitos meios, até porque vivemos num país em que poucos lêem para valer. Não à toa, esses meios são de esquerda. Não são feitos para as pessoas comuns, diga-se de passagem. Têm um ponto de vista altaneiro de quem leu os clássicos, de quem se assume como acima da carne seca.
Nos bares, porém, as discussões geralmente não possuem essa altura toda que esse pessoal faz crer necessária. Muito ao contrário, são discussões mais chãs, mais afeitas a aspectos menores, ou que duram menos, e que dizem respeito a impressões tomadas a partir dos meios de comunicação de massa, dos preconceitos, das mudanças repentinas de opinião. São impressões conseguidas ao calor da hora, como na política geralmente acontece. Não são necessariamente chãs essas opiniões, mas seu foco é outro. É mais o dia a dia, o mutável, aquilo que não é facilmente destacável e colocado em ideais reconhecíveis por quem lê os clássicos.
Quando imaginava como deveria ter sido a Revolução Francesa, eu imaginava as discussões nas tabernas e bares. Eu imaginava Marat correndo por uma Paris suja e difícil de entender. Eu imaginava os restos de Rousseau sendo transferidos do cemitério para o Pantheon por gente que não se vestia tão bem como vemos que eles se vestem atualmente. Eu via mais rua, via mais sujeira, via mais incompreensão mútua. Via a política viva. Não me interessavam as discussões de gabinete, nunca me interessaram, realmente. Pois hoje continuo o mesmo. Não me interessam essas leituras tão pretensiosas de gente tão bem cheirosa. Gosto do cheiro do bar, da lanchonete, da fritura. Porque ali é a verdadeira política está.
Comentários